Dia 2 de fevereiro na França é a Fête de la Chandeleur, que comemora a Apresentação de Jesus no Templo. É um dia em que se come crepes e galettes (crepe salgado) por todo o país. Mas, o que tem a ver a religião com os crepes? É o que vamos ver logo abaixo.
A Apresentação de Jesus no Templo é um dia religioso que se comemora em vários países. O que vou falar nesse texto são as características da comemoração na França, com esse detalhe maravilhoso que são os crepes.
A tradução para o nome Chandeleur é Candelária. Então, é a Festa da Candelária. Na França, ela também é chamada de Fête des Chandelles (Festa das Velas). Embora hoje ela esteja ligada à religião católica, suas origens são bem pagãs e têm muitos séculos. Na época dos romanos, eram organizadas as Lupercales, que eram procissões com tochas em honra a Lupercus ou Pan, deus da fecundidade. Era uma forma de comemorar o final do inverno e a chegada de dias mais clementes e fecundos para a agricultura.
Outra interpretação para a origem da Chandeleur é que a festa seria dedicada à deusa Ceres (Deméter na Mitologia Grega), que representava a colheita e não fertilizava a terra durante três meses, ou seja, no inverno. Uma procissão com tochas era realizada, lembrando a procura da deusa por sua filha, Proserpina (ou Perséfone para os gregos), raptada por Plutão (Hades), o deus dos infernos. A luz das tochas na procissão simbolizava a vitória sobre as sombras da morte. Nos dois casos de origem pagã, a festa era realizada em torno de 15 de fevereiro.
Foi em 472 que o papa Gelásio I decide “cristianizar” a comemoração, tornando-a símbolo da Apresentação de Jesus no Templo. Segundo a tradição hebraica, os bebês primogênitos do sexo masculino deveriam ser levados ao templo, quarenta dias após o nascimento, para serem apresentados a Deus. Quarenta dias após o Natal (nascimento de Jesus) cai em 2 de fevereiro. De acordo com a Bíblia, um velho homem, Simeão, e a profetisa Ana reconheceram o menino como Deus, a luz de Israel. Por isso, Gelásio associa a antiga festa pagã das velas com a comemoração cristã. Nesse dia, é celebrada também a Purificação da Virgem Maria, outra tradição hebraica que diz que as mulheres deveriam ser purificadas 40 dias após o parto.
Mas, o que os crepes têm a ver com isso? Como escrevi lá em cima, o papa Gelásio I apropriou-se a antiga festa pagã dos romanos. Então, no dia 2 de fevereiro, começaram a ser organizadas em Roma procissões, só que em vez de tochas eram velas bentas. No século VII, Festa do Candelarum se tornou tão popular, que antes mesmo da Aurora já havia fiéis chegando à cidade. Aí, para matar a fome dessa multidão, começaram a distribuir os crepes de trigo candial (muito branco).
Essa tradição dos crepes com a Chandeleur (Apresentação de Jesus no Templo) continua na França. Na Idade Média, os camponeses iam à Missa pela manhã já com a velas para serem benzidas. Aí eles voltavam para casa, com a vela acesa, e percorriam todos os cômodos da residência, para levar luz e prosperidade ao lar. Durante essa procissão doméstica, a vela deveria ficar acesa. Se ela apagasse, era sinal de azar. Depois, ela era guardada em uma gaveta e só era retirada dali em situações dramáticas, como no caso da morte de alguém da família.
No mesmo dia, à noite, os crepes eram degustados. Pela sua forma redonda, a cor dourada e o fato de ser quente, o crepe lembrava o sol. O que combinava também com a festa religiosa, pois, para os cristãos, Cristo é a luz do Mundo. A tradição mandava que os crepes deveriam ser feitos com o trigo excedente do ano anterior, para trazer prosperidade na colheita do ano que começava. Também era uma forma de aproveitar o que sobrava do cereal.
E a coisa não para por aí! Os primeiros crepes deveriam ser feitos no fogo e jogados para o alto várias vezes com a mão direita, enquanto a mão esquerda deveria segurar uma moeda. Isso tudo para atrair a prosperidade. Depois, a moeda era enrolada no crepe, levada em procissão até o quarto para ser jogada em cima do armário, onde deveria ficar até o ano seguinte. Deixar a moeda cair, era azar para o ano todo.
Bom, não é preciso mais fazer todo esse malabarismo. Mas a Chandeleur ainda é uma boa ocasião para se comer os crepes. Afinal, como diz o ditado francês: Se não quiser trigo carvoento, coma crepes na Chandeleur. E, nesse caso, não é difícil ouvir a voz da razão, não é?
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